A IGREJA E A PANDEMIA Pt. 2

|Precisamos ser relembrados que pessoas são infinitamente mais importantes do que estruturas|

Sim, esse ponto nos deveria ser óbvio, mas nem sempre essa é a realidade.

O que mais temos visto, nos mais diferentes lugares, são líderes desesperados para o retorno de suas atividades presenciais. Os motivos são os mais variados, desde os mais legítimos até os mais questionáveis. Essa pandemia traz consigo um certo caráter apocalíptico, não no sentido do caos escatológico, mas por lançar luz e trazer certa revelação (apocalypsis) para o todo.

Como se um mero retorno das atividades presenciais, nesse momento de pandemia, significasse a certeza de um retorno imediato das pessoas. Na verdade, o que tem sido observado é exatamente o oposto. Onde a reabertura das igrejas já tem acontecido, a frequência média dos frequentadores está entre 10 e 40% se comparado aos cultos pré-crise. A expectativa de muitos pastores e líderes têm se transformado em frustração ao perceber que a abertura dos prédios não se traduziu em retorno dos membros. E meu palpite, é que infelizmente essa será a tendência ainda por algum tempo. Ao menos, em um cenário mais otimista, até que tenhamos a vacina.

Isso tem sido muito vívido para nossa comunidade local, a Calvary Campo. Pois depois de meses de uma intensa reforma, no último mês de novembro finalmente nos mudamos para o nosso tão sonhado novo local. Como os meses de dezembro e janeiro são tradicionalmente meses onde a frequência nos cultos diminui, no início desse ano estávamos ainda em “lua de mel” com nosso novo espaço e já no mês de fevereiro, a igreja apresentava franca expansão em todos os sentidos. Até que veio a pandemia e então realizamos no dia 15 de março nosso último culto presencial até o momento.

Hoje, temos um prédio grande, bonito, no coração da cidade, que foi reduzido à um grande estúdio de gravação. É verdade que temos usado o prédio com outras finalidades, como centro de distribuições de cestas básicas, donativos e como base do nosso hub de negócios de impacto, por exemplo.

É claro também que somos extremamente gratos a Deus por essa nova estrutura. Sonhos que tínhamos anteriormente, continuam fazendo sentido para nós ao pensarmos em nossa igreja no futuro. Olhamos para aquele lugar e entendemos que um dia pessoas preencherão novamente cada um daqueles espaços.

Mas no que diz respeito às nossas atividades enquanto igreja, ao menos nesse momento, não faz tanta diferença se a estrutura é grande ou pequena. Afinal, o culto que é gravado em nosso prédio, poderia ser gravado em qualquer outro lugar.

Nesse sentido, é crucial lembrarmos que as pessoas são e sempre serão muito mais importantes que quaisquer estruturas. Um dos segredos é não enxergarmos as estruturas como fins em si mesmas, mas como potencializadores da missão. A pergunta que precisamos nos fazer é: como elas podem, em um futuro próximo continuar viabilizando a missão que Deus tem nos dado? Como a estrutura pode continuar à serviço da comunidade?

Enquanto isso não acontece, faço dois apontamentos para uma “igreja sem prédios” nesses tempos que temos vivido:

Deus nos criou para os relacionamentos, a natureza da fé cristã é essencialmente relacional, o Novo Testamento está repletos dos imperativos de mutualidade, onde nossa vivência do evangelho só faz sentido a partir de seu caráter comunitário. A igreja é muito mais do que o ajuntamento de indivíduos. E muito embora o congregar nos seja insubstituível e inegociável, precisamos insistir em extrair o melhor desse momento de exceção.

É verdade que não podemos reunir e abraçar; Mas podemos conversar, olhar no olho, e comungar mesmo que isso aconteça através de uma tela. Precisamos continuar valorizando a comunhão diante de um cenário de distanciamento social.

2. Resgatar o aspecto missional da igreja:

A narrativa bíblica é, em síntese, a história de um Deus missionário que se move através dos tempos trazendo redenção e reconciliando consigo todas as coisas, tendo como figura central o Cristo. E ao realizar Sua missão, Ele nos convida, enquanto seu povo, a sermos co-participantes dessa missão. Mais do que nunca, é tempo de um resgate à misionalidade, um retorno à realidade bíblica do primeiro século onde não havia distinção entre a vida em discipulado e a missão, onde cada discípulo de Jesus se compreendia como um agente do Reino em missão no mundo.

É tempo de desafiarmos e equiparmos os membros das nossas comunidades ao cumprimento de suas vocações nos mais variados ambientes e diversas esferas da vida: família, universidade, trabalho…

Evidente que é triste ver nossos prédios fechados, mas temos de nos apropriar da oportunidade única de sermos verdadeiras comunidades sinalizadoras do Reino, tal como cidades luminosas sobre o monte, que ao brilharem, servem como referencial aos que estão perdidos.

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Nos próximos artigos abordaremos outros três aspectos:

3. A tecnologia é o novo paradigma da evangelização;

4. Temos o privilégio de devolver a igreja para o povo;

5. Precisamos enfrentar os desafios do momento atual, sem perder de vista, a esperança na consumação da história.

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Leia também o primeiro artigo da série:

A igreja e a pandemia (clique aqui)

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